Thursday, November 01, 2007

A Mundialização da cultura e seus reflexos


Recentemente com a evolução do processo da globalização, temos evidenciado diversas mudanças em nosso mundo atual, vivemos o quinto ciclo tecnológico em todo o seu esplendor provocando diversas transformações a nível cultural, sociológico e comportamental na sociedade pós-moderna. No entanto, materializam-se fruto dessas transformações, efeitos negativos e positivos para a humanidade em geral.
Diversos estudiosos sobre o tema, assim como nos congressos e encontros mundiais, debatem acirradamente os aspectos da globalização, da mundialização e da cultura. Um desses estudos ao qual o presente autor vem a comentar é o livro Mundialização e Cultura do professor e sociólogo Renato Ortiz, esse mesmo lançado pela editora brasiliense em 1994, traz justamente esses questionamentos esclarecendo muito bem os novos desafios para a cultura diante da mundialização.
Nos três primeiros capítulos do livro intitulado “cultura e sociedade global”, “advento de uma civilização” e “cultura e modernidade mundo”, o autor contempla dentro desses eixos temáticos alguns exemplos de países que mantiveram sua cultura ao longo de décadas, e outros, que devido às transformações na sociedade, se fundiram ou reatualizaram em termos de suas culturas. Os exemplos usados foram vários, desde aspectos culturais das religiões como também valores e costumes humanos em sociedades diversificadas, e que na modernidade todos esses elementos encontraram-se radicalizados fruto de sucessões e desdobramentos de modernidades anteriores.
O autor aborda também, diferentes concepções de mundo nas sociedades orientais em contraponto à sociedades ocidentais nos séculos passados, para fazer essas comparações, é utilizado alguns conceitos de Braudel e Max Weber, referentes à sucessão de economias-mundo e a China do século XIX respectivamente, não deixando de mencionar o antigo regime, preso este em demasia às suas tradições que impossibilitaram o desenvolvimento. Quando se refere a essas tradições, difícil pensar atualmente este fator em desarmonia com o conceito de nação, já desarticulado frente ao rompimento dos espaços no século atual. No entanto, o autor ressalva que a nação, no sentido da modernidade, passa a se constituir a partir do momento em que desterritorializam-se as relações sociais. São citados vários exemplos de como esse fenômeno cultural se materializa, tanto no universo dos filmes norte-americanos, como nas transformações das formas organizacionais do trabalho e nas inovações tecnológicas. Fazendo sempre uma ponte comparativa com o passado e reacendendo a discussão das concepções moderna e pós-moderna.
Estudos antropológicos e etnográficos que não levam em conta o resultado do contato entre as diferentes culturas não são bem aceitos pelo autor, que cita como contra argumento alguns estudos difusionistas de Kroeber além de uma gama de exemplos religiosos, lingüísticos, gastronômicos e comportamentais de diversas culturas ao redor do mundo. Esses exemplos, só vêm a reforçar a qualidade difusora, desterritorializada, móvel e internacionalizada da modernidade temperada no sincretismo e multiplicidade de suas formas.
A crítica ao imperialismo cultural, neste sentido, se opõe ao processo de mundialização, já que remete ao caráter central, fixo e tradicional dos modelos organicistas de Herder e Toynbee, é como se a crítica ao imperialismo fosse de contra ao movimento inevitável de se tornar “moderno”, e estaria fadada ao tradicionalismo de suas formas culturais.
Em uma segunda parte assim suposta, que são os três últimos capítulos: “Uma cultura internacional popular”, “Os artífices mundiais de cultura” e “Legitimidade e estilos de vida” discuti-se o conceito de “espaço” e a capacidade que a mundialidade possui de remodela-lo e dotá-lo de novas formas. Provocando a desterritorialização e alterando as raízes geográficas dos homens e das coisas, exprimi-se claramente nos exemplos do mercado têxtil, literário, publicitário e de entretenimento dos EUA, e de alguns países europeus, a própria materialidade desta cultura desterritorializada, rumo à formação da denominada cultura internacional popular, caracterizando assim o substrato da dita “sociedade global”.
“(...) Caberia, pois, unicamente à memória coletiva nacional integrar a diversidade das populações e das classes sociais, definindo desta forma a identidade do grupo como um todo. Neste caso, apesar das transformações tecnológicas, da globalização da economia, a cultura nacional, enquanto formadora de relações identitárias, estaria incólume às mudanças atuais.” (p. 117)
Novas dinâmicas próprias surgem nesta ocasião, rompendo o vínculo entre a memória nacional, os objetos e acima de tudo consubstanciada no consumo.
O universo dos antigos processos produtivos padronizados das multinacionais e o seu desdobramento posterior em direção à diversificação, flexibilidade e inovação das chamadas ditas transnacionais, são também abordados pelo autor, sempre associando esses fenômenos às novas mudanças no comportamento da sociedade, na desterritorialização dos produtos, na perda da centralidade, no debate democrático, no consumo e na construção da individualidade humana. Esse lado positivo da pós-modernidade como a descentralização, segmentação do mercado, pluralismo, “livre escolha” e individualidade é completamente ambivalente quando comparado à formação dos monopólios industriais e concentração das firmas. Há uma nítida tendência para a monopolização do setor distributivo, isso acarretaria, exploração dos países periféricos, constituição de espaços distintos e desiguais, formação de interesses econômicos e agentes políticos privilegiados. Este último, vale ressaltar, supera influentemente os partidos políticos, sindicatos, administrações públicas e movimentos sociais, compromete-se desta forma o discurso democrático assim como também a constituição de um “espaço público” caminhando em direção a uma nova ordem coercitiva.
Neste contexto, existe ainda o problema entre a diferença de países que exportam a sua cultura com enorme facilidade e outros, que pelo caráter nacional, a cultura encontra-se ainda presa e longe de romper as fronteiras. Essas questões também são abordadas de forma que, este problema, ocorre devido a falta de uma “visão” de marketing para agradar os anseios mundiais. Um melhor exemplo para ilustrar o pensamento acima seria as “enkas” japonesas fiéis às pronuncias do idioma japonês com enorme dificuldade para serem exportadas e as novelas brasileiras produto de exportação com seus capítulos encurtados.
Este livro foi de grande importância para o estudo e a compreensão de como as diferentes culturas guiadas pela ideologia da mundialização consegue se configurar em diferentes formas e se materializar ao redor do mundo com intensa multiplicidade, causando mudanças significativas no comportamento humano e no modo de pensar da sociedade atual. Temos a ciência de como o marketing publicitário e as agências dos órgãos governamentais de estado, conseguem alterar de modo significativos anseios e aspirações humanas rompendo-as do substrado das tradições e da memória coletiva, tendo exemplos fiéis na história norte-americana.
O anti-imperialismo vem lutando contra isso, porém bastante contraditório em suas bases frente ao fenômeno do aspecto “moderno” regido pela complexidade capitalista do mercado mundial e da construção que este vêm patrocinando na introjeção de novos valores.
O lado positivo da ideologia mundial se distorce quando a mesma passa a valorizar através de seu marketing uma gama de sinais que enaltecem determinado “estilo de vida” em contraposição aos excluídos do processo. Esse conjunto de valores encontram-se hierarquizados, ocultando as desigualdades de uma modernidade que ser quer global, no entanto bastante imperativa em seu bojo capitalista.

Ortiz, Renato. Mundialização e cultura. São Paulo: brasiliense, 2006.

Thursday, January 18, 2007

O Processo de ocupação do território fluminense

A colonização das terras brasileiras, a partir do século XVI, vai ser resultante da iniciativa de empresas comerciais portuguesas levadas a efeito pelos navegadores daquele país.
O traço mais marcante da colonização do Brasil, embora o seja de outras partes do continente americano, foi o de servir à manutenção do pacto colonial. Neste sentido, os obstáculos naturais na exploração de riquezas como a Serra do Mar, não foi de insuperável transposição, já que à necessidade da busca ao ouro e os contatos com os indígenas e suas experiências com as trilhas, foram de grande importância. Como exemplo, temos o caminho indígena, que ligava a vila de Paraty ao caminho dos paulistas, fornecendo uma rota para o escoamento.
O quadro natural fluminense apresentava diversos fatores favoráveis aos objetivos portugueses, como exemplo, temos a presença de algumas baías, como a da Guanabara e da Ilha Grande, favorecia o aporte seguro dos navios, possibilitando a instalação de portos, em torno dos quais se desenvolveram núcleos populacionais. Assim como as baías, os estuários não só foram abrigos naturais para os navios portugueses, como também permitiram a penetração para o interior, subindo os vales dos rios principais e de seus afluentes. Neste sentido, o relevo foi durante longo período um “obstáculo” a ser transposto, valendo ressaltar as feições da Serra do Mar, aonde encontram-se dois blocos soerguidos: o da Serra dos Órgãos e o da Serra da Bocaina, nos limites com o estado de São Paulo.
Além dos acessos facilitados pelo quadro natural, os portugueses se beneficiaram dos caminhos e trilhas indígenas já encontrados no território. Muitos desses aldeamentos constituíram-se em embriões de futuras vilas e cidades: Niterói (séc. XVI), Mangaratiba, São Pedro D’aldeia entre outras.
A exportação em meio a este quadro, foi resultado dos diversos “ciclos” econômicos que serviriam de suporte à colonização e caracterizaram a economia brasileira durante séculos. E assim foi desde o século XVI até o inicio do século XX.
A introdução da agricultura canavieira na Baixada Fluminense, principal área do Rio de Janeiro produtora de açúcar desde o século XVI até o século XX, teve inicio após a expulsão dos franceses, em 1567. Seu cultivo em geral era praticado nas áreas de mata, em terrenos não embrejados, livres de enchentes. Com a sua expansão, se consolida a “zona nova” do açúcar caracterizada por pequenas propriedades, que seriam, no século seguinte, absorvidas pelas usinas.
Se a cana-de-açúcar espraiou-se por diversas partes do território fluminense, foi na região de Campos que essa cultura se consolidou a partir das usinas instaladas na região.
Posteriormente houve o ciclo da mineração, realizada essencialmente nas Minas Gerais, a mineração acarretou algumas transformações significativas no processo de ocupação do território fluminense. Os caminhos indígenas que ligavam o litoral ao interior foram de grande utilidade para que o percurso entre o porto e as minas fosse realizado, decorrência destes entrepostos, foi que se desenvolveu muitos povoados, os quais mais tarde se transformariam em vilas e cidades.
A mineração também foi responsável direta pelos núcleos iniciais de povoamento de outras parcelas do território fluminense. Após o século XVIII, com a escassez do ouro em Minas Gerais, a opção foi por iniciativas em torno da região de Cantagalo, ao qual atraiu pessoas não só de Minas Gerias, mas também de outras partes do Rio de Janeiro, como a Baixada Fluminense.
As transformações provocadas pela mineração deram como resultado final o deslocamento do eixo econômico da colônia, antes localizado nos grandes centros açucareiros do nordeste (Pernambuco e Bahia), para a cidade do Rio de Janeiro.


Bibliografia: BRITTO, Jorge. Arranjos produtivos locais: perfil das concentrações de atividades econômicas no Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro